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Entenda os encargos por atraso e como evitá-los

Entenda os encargos por atraso e como evitá-los

23/05/2025 - 06:24
Felipe Moraes
Entenda os encargos por atraso e como evitá-los

No cotidiano das finanças pessoais e empresariais, o atraso no pagamento de obrigações gera impactos diretos no orçamento. Compreender de que forma esses valores adicionais são aplicados é essencial para evitar surpresas e manter uma saúde financeira equilibrada.

Imagine Maria, uma empreendedora dedicada que, apesar de organizar suas vendas e receitas, atrasou o pagamento de uma fatura e passou dias preocupada com as cobranças. Esse episódio ilustra como uma simples distração pode acarretar situações de estresse financeiro intenso e comprometer projetos futuros, como a compra de um imóvel ou a expansão de um negócio.

Conceito de encargos por atraso

Encargos por atraso são valores adicionais cobrados do devedor quando uma obrigação financeira não é quitada na data de vencimento. Estão previstos tanto nos contratos civis quanto nos comerciais e regulados por normas como o Código de Defesa do Consumidor e o Código Civil.

Esses encargos têm dupla finalidade: compensar o credor pela espera e criar um instrumento de desestímulo à inadimplência, preservando o equilíbrio econômico do negócio. Sua aplicação ocorre em diversos contextos, como contas de consumo, financiamentos, parcelas de consórcio e contratos de locação.

É fundamental compreender que esses valores não são arbitrários: devem estar expressos de forma clara em contrato, respeitando limites legais e princípios de transparência.

Principais tipos de encargos

Os encargos por atraso podem ser segmentados em três categorias principais, cada uma com cálculo e finalidade específicos:

  • Multa por atraso (multa moratória): uma penalidade fixa, geralmente definida como um percentual sobre a prestação em atraso, com o intuito de punir o inadimplente.
  • Juros por atraso (juros moratórios): acumulam-se diariamente ou mensalmente sobre o saldo devedor, calculados a partir do dia subsequente ao vencimento, até a data do pagamento.
  • Taxas administrativas e outras cobranças: podem incluir custos operacionais, encargos de cobrança e eventuais despesas de correspondência, desde que previstas no contrato.

Para cada tipo de encargo, o contrato deve detalhar a base de cálculo, a periodicidade e as condições de aplicação, garantindo segurança jurídica para credor e devedor.

Legislação e limites legais

O arcabouço legal brasileiro define parâmetros rigorosos para evitar abusos e proteger o consumidor. Destaque para:

• Multa por atraso limitada a 2% sobre o valor da prestação, conforme artigo 52, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor.

• Juros moratórios não superiores a 12% ao ano (aprox. 1% ao mês), de acordo com o artigo 406 do Código Civil em combinação com o artigo 161, § 1º, do Código Tributário Nacional.

Além disso, órgãos como o Procon e a Justiça Especial Cível têm jurisprudência consolidada no sentido de invalidar cláusulas que ultrapassem esses limites ou que não estejam expressamente acordadas.

Quando o contrato estabelece percentuais inferiores, prevalece a cláusula mais benéfica ao consumidor, mas nunca se pode ultrapassar os limites legais.

Exemplos práticos de aplicação

Visualizar cenários reais ajuda a consolidar conceitos:

1. Fatura de cartão de crédito: suponha uma fatura de R$ 1.200 com vencimento no dia 10. Ao pagar no dia 15, aplica-se multa de 2% (R$ 24) e juros diários, que podem chegar a cerca de 0,0328% ao dia, totalizando aproximadamente R$ 19,70 em cinco dias. O montante final será de R$ 1.243,70.

2. Aluguel residencial: em um contrato que prevê multa de 2% e juros de 1% ao mês, o atraso de 30 dias em um aluguel de R$ 2.000 gera multa de R$ 40 e juros de R$ 20, totalizando R$ 2.060.

3. Empréstimo consignado: mesmo com desconto em folha, caso haja desistência ou devolução da importância, os encargos previstos no contrato entram em vigor, observando os limites legais.

Consequências do atraso

O impacto de um atraso vai além do valor cobrado. Ele pode acarretar:

• Inclusão em cadastros de inadimplentes (SPC e Serasa), comprometendo o acesso a crédito e a compra de bens de maior valor.

• Aumento progressivo da dívida, dificultando a quitação e criando um efeito bola de neve.

• Estresse emocional e ansiedade, afetando a qualidade de vida e a tomada de decisões financeiras futuras.

Como evitar encargos por atraso

Adotar hábitos de organização e controle financeiro faz toda a diferença. Veja algumas ações práticas:

  • Organização financeira eficiente: mantenha planilhas ou utilize aplicativos de controle de despesas para acompanhar receitas e despesas com precisão.
  • Débito automático: programe o pagamento automático de contas fixas, reduzindo o risco de esquecer datas de vencimento.
  • Faturas eletrônicas e lembretes: habilite notificações via SMS, e-mail ou aplicativos de finanças para receber alertas antes do vencimento.
  • Negociações e acordos antecipados: ao perceber dificuldade de pagamento, entre em contato com o credor antecipadamente para ajustar condições sem acréscimos maiores.
  • Reserva de emergência: construa uma reserva equivalente a pelo menos três meses de despesas para enfrentar imprevistos sem comprometer pagamentos.

Essas iniciativas promovem tranquilidade financeira e evitam o desgaste de lidar com cobranças e juros inesperados.

Diferença entre juros por atraso e juros remuneratórios

Apesar de ambos incidirem sobre valores devidos, suas naturezas são distintas:

• Juros por atraso: aplicados como penalidade pelo não pagamento na data certa, possuem caráter punitivo e incidem apenas sobre o valor em aberto após o vencimento.

• Juros remuneratórios: constituem a remuneração pelo empréstimo de capital, sendo calculados desde o início do contrato, independentemente de atraso.

Esclarecer esses conceitos evita cobranças indevidas e permite questionar cláusulas que não estejam claramente discriminadas.

Considerações finais

Entender o funcionamento dos encargos por atraso é um passo fundamental para assumir o controle das suas finanças. Lembre-se de que a prevenção, por meio de organização e uso de ferramentas adequadas, é sempre mais eficaz do que lidar com as consequências de uma dívida crescente.

Revisar contratos, buscar informações em órgãos de defesa do consumidor e adotar práticas de planejamento financeiro são atitudes que promovem segurança e autonomia. Dessa forma, você evita encargos indevidos, preserva seu crédito e caminha com mais confiança rumo aos seus objetivos.

Felipe Moraes

Sobre o Autor: Felipe Moraes

Felipe Moraes